quarta-feira, 17 de junho de 2009

A foto que faltava a quem anda há muitos anos a virar frangos















Uma análise interessante do António Aguiar sobre a prática da nossa modalidade, ou a nossa modesta tentativa de nos fazermos passar por aves de rapina.

"A simplicidade é a máxima sofisticação" (Leonardo da Vinci)

Meu caro Mestre Águia Real

Há muito tempo que ando para te escrever, Mestre Águia, por causa do caminho que segue o nosso desporto e, concretamente, a nossa modalidade.

A inevitável comparação entre as recentes vitórias de modalidades pequenas ou médias como o Triatlo, o Rugby e o Básquete, e o nosso desaire aéreo determinam a urgência deste meu apelo, Mestre Águia, junto de ti e dos restantes mestres que por esse País isolados, completamente isolados, sobrevivem duma mão meio-cheia de alunos e duma ideia romântica de Voo Livre.

É isso, Mestre Águia, eu e outros mestres estamos completamente isolados a dar alguma instrução de voo aos nossos alunos, vendemos-lhes algum equipamento, damos-lhes, de longe a longe, mais uns estágios nas serras e eles, cansados de fazer piscinas na falésia, acabam por nos escapar por entre os dedos para outras modalidades, vendendo as asas ou mantendo-as entre teias na garagem. Ficar sem asas é como se fosse uma mutilação, Mestre Águia, mas nós é que estamos a contribuir involuntariamente para os "aleijadinhos"! Temos muitos alunos, Mestre Águia, e isso pode dar-nos a ideia ilusória de sucesso, mas raros, muito raros, são os alunos e pilotos que singram e evoluem até à grande pilotagem. Não podemos cerceá-los, Mestre.

Tu, Mestre Águia, estás tão isolado como os demais, ou mais ainda, mas, ao contrário de nós, os teus alunos não te escapam por entre os dedos e ficam-se contigo até terem netos, bisnetos e barbas brancas. O teu problema, Mestre Águia, é que tu, à partida, tens muito poucos alunos porque vives aí no interior, donde toda a gente fugiu.

A maior parte do sucesso que tens, em contrapartida, Mestre Águia, vem-te do facto de viveres na Serra, que é onde se pode fazer o grande voo. Tens poucos alunos, Mestre Águia, mas eles ficam-te fiéis e à Serra, sempre na perspectiva de fazerem, no dia seguinte, outro grande voo e de cultivarem a amizade que nesses vales recônditos se pode cultivar.

É, pois, isso, que hoje te venho propor, Mestre Águia, e a todos os outros mestres, esquecendo eventuais questiúnculas (isto é um diminutivo) que no século passado possam entre nós ter ocorrido. Eu dou-te alunos e lealdade, Mestre Águia, tu dás-me lealdade apenas, aos meus alunos dás térmicas e outro sorriso, mas juntos, juntos, Mestre Águia, damos um futuro à nossa modalidade!

Das minhas, das tuas e doutras mãos de mestres saíram, Mestre Águia, um ou outro piloto que sobressaíram e conquistaram para Portugal algumas frágeis e incipientes vitórias. Foram só casos isolados, uma gota de água na imensa lotaria de todos os que nunca ouviram falar de voo livre, porque nunca há notícias de voo livre, Mestre Águia. A maior parte dos cidadãos portugueses nem sabe que há escolas de parapente.

Olha a relação Vanessa e o crescimento do Triatlo, Mestre Águia, de há quatro anos para cá. O crescimento sistemático do basquete, já de há uma década, que começa a dar resultados. A nova febre do Rugby e dos seus amadores campeões, que põe todos a cantar o Hino e a fazer placagens em qualquer relvado. Eles têm condições e notoriedade, Mestre Águia.

Também nós temos de dar condições aos nossos praticantes, Mestre Águia. E dar-lhes condições é dar-lhes as tuas térmicas por sistema, Mestre Águia, depois da minha formação inicial.

E na minha formação, como na tua, já há espírito desportivo, respeito pelas pessoas, entreajuda. Só temos que lhes dar melhores condições para a prática, Mestre Águia. E daí partiremos para as grandes vitórias.

Eu tenho muitas ideias, Mestre Águia, e é contigo e com os outros mestes que as poremos em prática. Não é nada do outro mundo sermos leais entre nós, Mestre Águia.

Não podemos, Mestre Águia, contar com mais ninguém e não podemos iludir-nos com uma ou outra vitória que conseguimos no passado. Se quiseres, até podemos criar finalmente a Associação de Mestres, que há tantos anos está nos estatutos e nós, Mestre Águia, continuamos a fazer de conta que dominamos a federação, tomando conta dos clubes e votando pelos alunos. Olha, o resultado está à vista, nem vale a pena comentar a situação ali pelos Olivais.

Portanto, Mestre Águia, viva o associativismo e o Voo Livre, Viva!

Espero que me dês resposta breve antes que seja tarde, Mestre Águia. As minhas ideias com as tuas e as dos outros mestres hão-de dar grandes golos, muitos "1000 pontos" entre os nossos alunos, presentes e futuros.

Um grande abraço amigo deste que se assina,

Mestre Garajau

P.S.: Repara, meu caro Mestre Águia, eu não te estou a pedir que os ensines a voar além daquilo que eu próprio sei ensinar. Todos sabem que os garajaus e as suas irmãs gaivotas também enrolam térmica quando há térmicas no mar. A situação é de disponibilidade (ou falta dela) e tem a ver com o sítio em que vivo: a costa. Aqui é que há peixe e é disso que eu vivo, Mestre Águia.

5 comentários:

  1. Onde foi tirada Gil?

    Interessante também era o pessoal conseguir fotos dos nossos amigos abutres de Foios...a enrolarem térmicas...e a darem dicas...

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  2. Atinge velocidades superiores a 320mk/h... Se eu assim fosse dizia-vos quem virava os frangos...

    Gil

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  3. Bem, eu diria que nós devemos atingir aí uns 200 kms/h... Temos é que largar a asa. E depois pode-se sempre abrir o emergência (eu disse "largar a asa", não "a asa e a cadeira")

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  4. então GIL onde foste sacar toda essa literatura assim vais colocar a malta toda cheia de tedio de tanto ler!!!
    mas está porreiro!!!!!!!

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  5. Ler não faz mal, antes pelo contrário, desde que se saiba fazer a boa selecção. Por exemplo, esta pequena parábola (literatura é demais) está gramaticalmente mais correcta do que qualquer regulamento dos últimos anos da nossa federação. E se os nossos mestres garajaus e águias quisessem (uff!) teria muito mais efeito para a modalidade que qualquer regulamento existente.

    De salientar que isto foi inicialmente publicado há quase dois anos num fórum que já pouco mexia e, entretanto, morreu. Portanto, de há dois anos para cá, alguns comentários hão-de estar desactualizados. Espero eu.

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